O excesso de peso e a obesidade resultam da interação entre diversos fatores, como genéticos, metabólicos, comportamentais e ambientais. Dados da World Health Organization (WHO) de 2010 afirmam que a obesidade representa grave problema de saúde pública, afetando tanto países desenvolvidos quanto em desenvolvimento. Estudos epidemiológicos indicam que aproximadamente 65% da população dos Estados Unidos apresenta excesso de peso, sendo que 35% desses indivíduos são classificados como tendo risco de obesidade (25 ≤ IMC ≤ 30 kg.m-2) e 30% são considerados obesos (IMC ≥ 30 kg.m-2).
Segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009 realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o aumento de peso em adolescentes de 10 a 19 anos foi contínuo nos últimos 34 anos. Neste período, a prevalência de excesso de peso (IMC ≥ 25 kg.m-2) na população adolescente brasileira passou de 3,7% para 21,7% no sexo masculino e 7,6% para 19% para o sexo feminino. Já os casos de obesidade (IMC ≥ 30 kg.m-2) entre adolescentes passaram de 0,4% para 5,9% no sexo masculino, e de 0,7% para 4,0% no sexo feminino. Este quadro é extremamente preocupante, pois estima-se que indivíduos obesos apresentam aumento de 50% a 100% do risco de mortalidade, fato explicado pela associação entre excesso de peso e gordura abdominal com doenças crônicas não transmissíveis, como hipertensão arterial, dislipidemia, diabetes mellitus tipo 2 (DM2) e certos tipos de câncer.
No Brasil, vários estudos de base populacional têm mostrado que fatores sócio-demográficos e comportamentais estão associados ao aumento do peso corporal. Entretanto, ainda existem poucos estudos acerca do papel desses determinantes na distribuição da gordura. Em geral, os riscos de desenvolver obesidade abdominal aumentam com a idade e diminuem com a maior escolaridade. Adicionalmente, observa-se associação entre obesidade abdominal e menopausa, tornando-se primordial o desenvolvimento de terapias, tanto relacionadas a mudança de comportamento como farmacológicas, em especial na adolescência, visando reduzir o impacto do envelhecimento no desenvolvimento de obesidade e doenças a ela associadas.
O tratamento interdisciplinar para adolescentes obesos, sob a direção da Profa Dra. Ana Dâmaso, que vem sendo desenvolvido na UNIFESP, tem se mostrado eficiente na redução da prevalência da síndrome metabólica, da esteatose hepática não alcoólica (acúmulo de gordura no fígado) e da compulsão alimentar, contribuindo para a melhoria na qualidade de vida de adolescentes obesos.
O tratamento interdisciplinar é composto por profissionais de diferentes formações - médicos, nutricionistas, fisioterapeutas, educadores físicos e psicólogos - a fim de modificar de maneira mais ampla o estilo de vida destes indivíduos, acostumados a ficar sentados assistindo televisão e comendo.
Frente aos efeitos benéficos observados por este tratamento interdisciplinar, a mudança do estilo de vida desde a adolescência demonstra suma importância para uma vida adulta e para o envelhecimento saudável, sem presença de doenças decorrentes da obesidade e/ou do estilo de vida sedentário.
Digno de nota, a mudança do estilo de vida, não somente pelos adolescentes, mas sim por toda a família, é necessária para que todos os efeitos benéficos impostos por tal estratégia sejam efetivamente duradouros e bem sucedidos.
Referências:
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